MESSIAS TORRES (Pedagogo)
Muito se tem falado,
naturalmente, sobre a realização da Copa do Mundo de futebol no Brasil. Longe
de querer desconsiderar o mérito nacional em sediar um evento tão imponente,
convém, no entanto, ponderar sobre alguns aspectos implicantes a este acontecimento,
tendo em vista os recorrentes impactos social e econômico-financeiro a ele
relacionados.
Um questionamento principal e
inevitável reside no fato de que nós, sendo uma nação - embora com potenciais -
ainda carente como sociedade do século 21, temos uma infinidade de questões mais
relevantes com que se preocupar, do que gastar tempo e dinheiro com um evento
meramente futebolístico. Tanto é assim, que desde 2009, grande parte da
estrutura política, administrativa e burocrático-funcional do País se mobiliza,
gasta muito e, por vezes, negligencia temas socialmente imprescindíveis, tudo
em nome das obras para a tão esperada Copa de 2014.
Não se pretende aqui, desmerecer
o futebol como um fenômeno cultural brasileiro importante. Ao contrário, futebol
é saudável, é diversão, é socializador. É frontalmente contestável, porém, o menosprezo a
prioridades urgentes, para nutrir-se a insaciedade do corporativismo (não raro,
corrupto) dominante na cúpula do futebol mundial.
A própria vida, a propósito, nos
ensina: primeiro o essencial, depois o acessório!
E após os poucos dias de
“venerável” Copa do Mundo? O que farão dos estádios (bi)milionários? Que fim
útil eles terão? E os custos altíssimos para manutenção de toda uma estrutura feita
exclusivamente para o tal evento? Quem custeará tais despesas? Não seria mais
coerente e necessário investir no povo? Num Brasil real que sofre por
“desnutrição e “morre um pouco a cada dia”? Não seria mais nobre, portanto,
investir numa sociedade que trabalha, que produz progresso e anseia tempos
melhores?
Só para lembrar: Brasil, 6º no
ranking do futebol, 88º no ranking da educação.
A África do Sul é um exemplo
patente de que uma nação subdesenvolvida necessita, antes de tudo, investimentos
em educação, saúde, emprego,
infra-estrutura física e social. Jamais desperdiçar dinheiro (seja ele público
ou não) com coisas frívolas e de pouca ou nenhuma importância pra sociedade.
Toda a “beleza” e pujança da Copa, estampada ao mundo através das mídias, só corrobora
a hipocrisia maquiadora de um empreendimento caro e de ínfimos resultados
socialmente significativos.
Um estudo da Consultoria
Legislativa do Senado aponta que os gastos com o evento vão superar os R$ 60
bilhões, com aporte dos Governos Federal, Estaduais e Municipais, além de
aplicações da iniciativa privada, incentivada pelo Governo.
Pensemos um pouco!
Enquanto ocorre o esbanjamento de
dinheiro em algo fugaz, por outro lado, (dizem, os “confortáveis”) faltam
verbas para o aparelhamento das creches e das escolas e valorização de seus
profissionais; falta estrutura digna ao Sistema Único de Saúde – SUS, que,
paradoxalmente, mata milhões de sofridos que precisam todos os dias por ele serem
socorridos; faltam providências eficazes de prevenção e combate ‘às violências’,
que aterrorizam as nossas vidas, nos minguando a paz social; falta efetividade
no exercício democrático, justo num País que vive mal, etc. e etc.
Em razão disso tudo, louvável
seria se fosse “Brasil na educação do mundo”. “Brasil na competência do mundo”.
“Brasil no progresso do mundo”, invés de apenas Copa do Mundo no Brasil. Se
assim fosse, teríamos – concordo - grandes motivos pra tanta solenidade e ufania
patriótica.
Editado por:
Messias Torres

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