A vontade de muitos jovens brasileiros de terem uma experiência
profissional no exterior já resultou em muitos casos de vítimas de tráfico de
pessoas. De acordo com o Ministério da Justiça, no entanto, com o crescimento
econômico do Brasil e o aumento da fiscalização, é cada vez mais comum a
identificação de cidadãos europeus vítimas desse crime no território
brasileiro, iludidos por falsas oportunidades de trabalho.
“Durante muito tempo os brasileiros eram as maiores vítimas, quando iam
aos países centrais. Agora, temos percebido que há ocorrência de tentativas de
tráfico de pessoas a partir da América Latina e dos países centrais, que estão
em crise. Neles, existem ocorrências de tentativas de tráfico de pessoas
enviadas ao Brasil com o mesmo propósito”, disse ontem (31) o secretário
nacional de Justiça, Paulo Abrão.
O combate a esse tipo de crime foi discutido no Seminário Internacional
Brasil-União Europeia sobre Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas. A constatação
de problemas comuns, de acordo com Paulo Abrão, resultou na necessidade de se
aproximarem com o objetivo de planejar ações e definir parâmetros para a troca
de informações. “Vamos padronizar essa coleta de informações para que, em um
ano, tenhamos dados confiáveis para formular nossas políticas”, adiantou.
Presente ao encontro, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo,
ressaltou a necessidade de cooperação internacional para enfrentar o tráfico de
pessoas. “Esse é um problema que preocupa muitos países do mundo, em especial a
Comunidade Europeia. Portanto, o enfrentamento não passa apenas por medidas
internas de nosso país. Sem uma relação internacional aprofundada e sem a
conjugação de esforços, não será possível encontrarmos a solução”, disse.
Isso levou governos de diferentes países a ampliar parcerias visando ao
combate desse tipo de crime que, segundo avaliação do secretário Paulo Abrão,
“já se constitui como o terceiro maior volume de ativos ilícitos no mundo”. De
acordo com a embaixadora da União Europeia no Brasil, Ana Paula Zacarias,
"o tráfico de pessoas movimenta US$ 7 bilhões anuais".
Apesar de os dados ainda serem preliminares, Abrão diz já ser possível
identificar o perfil internacional das vítimas de tráfico. “São principalmente
mulheres entre 19 e 24 anos. Em geral, são traficadas para diferentes fins.
Entre as modalidades mais comuns estão a exploração sexual, a remoção de órgãos
e tecidos humanos, trabalho escravo ou servidão em casamentos”.
Abrão explica que as denuncias de prática desse crime no Brasil podem
ser feitas nos núcleos e postos de enfrentamento ao tráfico de pessoas
instalados em pontos de entrada no país e rodoviárias de diversos estados. “As
pessoas podem procurar esses locais para apresentar suas demandas, pois são
eles que administram, in loco, a ocorrência dos fatos e depois os
levam ao âmbito federal nível federal, para eventual ação articulada com a
Polícia Federal”.
*Pedro Peduzzi
Repórter da A. Brasil
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