Um ano de cerco mais
intenso na fronteira do Brasil com os países vizinhos, por meio da Operação
Sentinela, da Polícia Federal, começou a alterar o cenário da guerra do País
contra o tráfico de drogas, roubo de carros e o crime organizado numa região
conhecida como terra de ninguém. Um ato simbólico da operação será o
repatriamento de mais de 400 veículos, de todas as marcas, roubados no Brasil e
levados para a Bolívia.
O governo brasileiro
está contratando caminhões-cegonha e preparando a logística para trazer os
veículos e entregá-los aos seus proprietários dentro de um ou dois meses. O
comboio entrará no Brasil por Corumbá, em Mato Grosso do Sul, e de lá seguirá
para São Paulo e demais cidades de onde foram roubados.
Os carros estavam
prestes a ser legalizados na Bolívia. Decreto baixado pelo governo Evo Morales
há um ano concedeu anistia e permitiu a regularização de mais de 120 mil
veículos que circulam sem documentos no país.
Estima-se que pelo
menos 2 mil carros podem ter sido levados irregularmente do Brasil. "A
pronta atuação da PF, com auxílio do Ministério das Relações Exteriores e a
colaboração das autoridades bolivianas, reverteu a situação", disse Oslaim
Santana, titular da Diretoria de Combate ao Crime Organizado (Dicor) da PF.
Outros números reforçam
a Sentinela. De junho de 2011 a junho deste ano, as apreensões de cocaína
subiram de 4 para 24 toneladas - seis vezes mais -, enquanto as de maconha
alcançaram 146 toneladas, 90% acima das quase 80 toneladas apreendidas ao longo
de todo o ano de 2010. Além disso, as prisões em flagrante saltaram de pouco
mais de 2 mil para 7.500 - quase quatro vezes mais do que no ano anterior.
Santana diz que a
colaboração da polícia boliviana também levou à prisão de dois megatraficantes
condenados pela Justiça brasileira, que haviam fugido para aquele país, de onde
comandavam seus negócios. Eles serão extraditados tão logo sejam concluídos os
trâmites judiciais.
O volume de dinheiro
apreendido praticamente triplicou, assim como o de armas, veículos e
embarcações. As apreensões de cigarros saltaram de 1,7 milhão para 4,7 milhões
de pacotes. Os dados fazem parte do balanço que a PF está fechando sobre a
Sentinela, que integra o Plano Estratégico de Fronteira, lançado pela
presidente Dilma Rousseff em 8 de junho de 2011.
Pela fronteira seca de
16,8 mil quilômetros entre o Brasil e dez países vizinhos, entram mais de 80%
da maconha e cocaína consumidas no País. Quase toda a maconha vem do Paraguai e
a cocaína procede da Bolívia, do Peru e da Colômbia. O plano de fronteiras, que
inclui as Forças Armadas e 26 órgãos de vários ministérios, prevê um conjunto
de ações de prevenção e repressão a todo tipo de criminalidade.
A tendência, segundo
Santana, é que as apreensões de drogas e desmantelamento de quadrilhas aumentem
neste ano, com o reforço do efetivo e a entrada em operação de equipamentos e
várias medidas estruturantes previstas no plano.
O governo está
realizando concursos para contratação de 3.600 novos policiais federais e
rodoviários nos próximos anos - e 1.200 já foram contratados. Quase todos serão
lotados na fronteira, que terá seu efetivo dobrado. Com recursos do plano, estão
sendo construídas novas bases e reformadas as antigas.
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