O
telefone celular de um policial civil gravou a voz de uma mulher suplicando
para não ser assassinada. O atentado aconteceu na noite da última sexta-feira (17/07/2015)
numa região de mata fechada no bairro de Nova Parnamirim, na Grande Natal.
“Não... não... comigo não... comigo não.. Não faz isso comigo não...”, implora
a vítima (ouça o áudio acima). Ainda segundo a polícia, a mulher que escapou da
morte é considerada testemunha-chave da chacina que vitimou cinco mulheres
dentro de um prostíbulo na zona rural de Itajá, cidade distante 200 quilômetros
de Natal.
"A
mulher é irmã do comerciante Francisco de Assis Júnior, de 38 anos. Mais
conhecido como ‘ET’, ele foi preso na manhã da sexta-feira em Macaíba, na
região Metropolitana da capital, e está sendo apontado como o mentor da
matança", confirmou o delegado Normando Feitosa.
O
áudio, que tem 45 segundos, foi gravado por um policial civil no momento exato
em que a mulher estava sendo amarrada numa árvore. O agente ligou para ela ao
retornar duas chamadas que feitas para o telefone dele. Como estava dirigindo,
o policial não atendeu de imediato. Depois, quando parou o carro, ele tentou
falar com a mulher. De alguma forma ela atendeu no momento em que estava em
poder dos criminosos. A polícia explicou que o celular do agente possui um
aplicativo que capta, automaticamente, todas as ligações que ele faz e recebe.
Ainda
de acordo com a Polícia Civil, o atentado aconteceu nas imediações da Av. Maria
Lacerda Montenegro. Três homens encapuzados abordaram a mulher quando ela
desceu de um ônibus e a levaram para o matagal. Já amarrada, ela contou que um
dos homens recebeu uma ligação telefônica dando a ordem para que ela fosse
queimada. A mulher lembra, inclusive, ter ouvido o homem dizer: “Você vai
queimar bem devagar, que é pra ver como o inferno é quente”.
Espancada,
ela foi amarrada numa árvore. Os três homens atearam fogo na vegetação e foram
embora. Uma moradora da vizinhança, viu o fogo se espalhando e ouviu a mulher
gritando por socorro. Essa pessoa chamou a polícia, que chegou a tempo de
salvar a vítima. Uma equipe do Samu levou a mulher ao Hospital Regional
Deoclécio Marques em estado de choque e com queimadura nas pernas, onde ela
recebeu atendimento. Ainda de acordo com a polícia, a irmã de Francisco recebeu
alta médica e permanece sob proteção de uma escolta armada.
Mulher
foi amarrada numa árvore numa região de mata fechada. Chamas atingiram as penas
da vítima, que foi socorrida em estado de choque para o hospital (Foto: Gilmar
Santos/Inter TV Cabugi)
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Testemunha-chave
As
investigações revelam que a irmã de Francisco de Assis deveria ter sido morta
como queima de arquivo, pois foi justamente ela quem o entregou à polícia. Em
depoimento, dado logo após a chacina, a mulher relatou que o irmão a vinha
ameaçando fazia alguns meses por conta de uma casa. De acordo com o relato,
Francisco quer que a irmã saia do imóvel para que ele fique com a residência.
Prostíbulo onde ocorreu a
chacina
é localizado no município de
Itajá
(Foto: Francisco
Coelho/Focoelho.com)
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Numa
tentativa de se defender, a mulher disse que daria queixa à polícia contando
das ameaças e que ainda chamaria uma das proprietárias do bordel para que esta
testemunhasse contra Francisco. O inquérito também revela que o comerciante
seria o responsável pelo abastecimento do prostíbulo, fornecendo bebidas,
cigarros e drogas. Além disso, Francisco também teria uma participação nos
lucros do negócio, recebendo uma parte do dinheiro pago pelos programas das
garotas. Contudo, segundo o delegado Normando Feitosa, a gerente da casa
estaria cobrando um determinado valor pelos programas, mas não estaria
repassando o valor combinado.
Motivações
Insatisfeito
em estar sendo passado para trás, e já sabendo que a gerente do prostíbulo
poderia ser a pessoa que viesse a testemunhar contra ele no caso das ameaças
pela disputa do imóvel da irmã, Normando acredita que estes dois fatos
motivaram a chacina. “Sentindo-se acuado, ele teria planejado e dado a ordem
para que a gerente fosse morta. Como havia outras mulheres no local, todas
acabaram assassinadas”, acrescentou.
“A
princípio estamos trabalhando com essas informações. As mulheres foram
assassinadas na madrugada. Assim que o dia amanheceu e a irmã do Francisco
soube da chacina, ela ficou com muito medo e nos procurou para entregar o
irmão. A Justiça concedeu o mandado de prisão e ele foi detido. Agora estamos
tentando chegar aos criminosos que executaram as mulheres no bordel e também
aos homens que tentaram matar a irmã do Francisco, que está sob proteção
policial”.
Após
a prisão de Francisco de Assis Júnior, policiais fizeram buscas na casa do
suspeito, em Macaíba (Foto: Divulgação/Polícia Civil e Felipe Gibson/G1)
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Prisões
Francisco
de Assis Júnior, o comerciante mantenedor do prostíbulo, foi preso na manhã
desta sexta-feira (17/07/2015) ao se apresentar na Delegacia de Macaíba. Ele foi
intimado a comparecer à DP por conta da queixa de violência doméstica que a
irmã dele prestou. Como a polícia já tínha em mãos um mandado contra ele no
caso da chacina, assim que ele chegou recebeu voz de prisão.
Após
a prisão, agentes foram à casa do suspeito e fizeram uma busca. No local foi apreendido
um aparelho celular que contém imagens da chacina e das cinco mulheres mortas.
O delegado revelou que o telefone pertence à mulher de Francisco de Assis. “Há
algum interesse dela ou mesmo do próprio marido nesta história. E isso nós
também vamos descobrir”, ressaltou o delegado. A prisão de Francisco foi a
segunda referente ao caso. Na noite da quinta (16), um homem foi preso em Itajá
também apontado como suspeito de envolvimento no crime.
A chacina
A
chacina aconteceu na madrugada da quarta-feira (15/07/2015) no município de Itajá.
Quatro homens armados e encapuzados entraram no local onde funcionava um
prostíbulo e efetuaram os disparos. As cinco mulheres que estavam na casa foram
mortas com tiros na cabeça. Dois corpos foram encontrados em uma sala, outros
dois na cozinha e a quinta vítima foi morta no banheiro de uma suíte. Não havia
clientes no prostíbulo no momento do crime.
Foram
mortas Patrícia Regina Nunes, de 37 anos, natural de Natal (gerente do
prostíbulo), Antônia Francisca Bezerra Vicente, de 32 anos, natural de Upanema,
e Maria da Conceição Pedrosa, de 21 anos, Maria Daiane Batista, de 20 anos e
Cássia Rayane Santiago Silva, de 17 anos, naturais de Assu. As vítimas foram
reconhecidas por familiares no Instituto Técnico-Científico de Polícia (Itep).
Patrícia
Regina Nunes (dona do estabelecimento), Cássia Rayane Santiago Silva, Maria
Daiane Batista e Antônia Francisca Bezerra Vicente são quatro das cinco vítimas
(Foto: Divulgação/PM)
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