Outro dia escutei, do lado de fora do recinto em
que eu me encontrava, a seguinte conversa:
- Semana passada, a ‘puliça’ deu uma carreira atrás
‘deu’. - Por quê? Perguntou, um dos colegas. – Ué, tava fazendo coisa errada! Respondeu.
- ‘Onte’, fulano e beltrano de tal ‘dero’ uma
brigada que quase se ‘mata’! Outro disse.
- Maconha,
nunca fumei não, mas já ‘cherei’ “farinha”. O ‘caba’ fica doido; ‘num’ tem medo
de nada!
Tudo isso dito com uma naturalidade capaz de
impressionar...
Ao sair do recinto (estarrecido), deparei-me com
três adolescentes, mais ou menos, entre doze e treze anos de idade. Acreditem! Eram
os autores da conversa acima descrita. O mais preocupante ainda, é que isso não
ocorrera em nenhuma capital do País. Fora em Antonio Martins/RN.
Refletindo sobre os comportamentos sociais hoje em
dia, fiz, a mim mesmo, algumas indagações: Por que e de onde vem tanta
violência? Seria irresponsabilidade dos pais? Incompetência das escolas? Seria
indiferença da sociedade? Má influencia das mídias? Seria culpa dos governos?
Da
justiça?
É preciso dizer que violência sempre houve, desde
os mais remotos tempos, em todas as sociedades. Embora não se justificasse,
naquelas épocas, as formas de violência eram, talvez, menores e se explicavam
porque estavam relacionadas a alguma razão de ser: fosse religiosa, cultural,
econômica, política. O que vemos atualmente na sociedade brasileira,
entretanto, é a violência pela violência, isto é, violência banalizada –
manifestada nas esquinas; nas escolas; nos lares; na cidade; no
campo...violência todo dia, em todo lugar!
Não seria coerente imputar esta responsabilidade a
poucos ou a um ente apenas, notadamente porque é um fenômeno complexo e está
condicionado a uma serie de fatores. Nesse sentido, refiro-me às mídias (TV,
internet, rádio, músicas) e ao que denomino aqui de negligência familiar, como
sendo os fatores mais sobressalentes no delineamento do fenômeno da violência
social em nossos dias. Penso serem estes,
em grande parte, os responsáveis pela indução e permissão de comportamentos
distorcidos e perniciosos, causadores da lástima com a qual convivemos!
Ora, a assimilação e a reprodução de tais
comportamentos, sobretudo, por adolescentes e jovens, se traduzem na
intolerância, no desrespeito aos direitos humanos, no agravamento da
discriminação, do preconceito, da fome – material e intelectual - e, portanto,
é “lenha” altamente inflamável na “fogueira” mórbida das misérias.
Uma saída? EDUCAÇÃO. Educação para a vida toda,
diria o educador Paulo Freire. O problema é que, justamente a TV, a internet,
as músicas “da hora”, tem muito mais espaço; muito mais “moral” do que qualquer
fator de natureza educativa. Por outro lado, a família, invés de significar, de
fato, um elemento fundamental na formação social e humana de seus tutelados, ao
contrário, muitas vezes, se insere no conjunto da mesma problemática,
desvirtuando, assim, o seu papel de agente formador.
E o ser humano - que já não se faz tão humano assim
- está, aos poucos, sendo “abrutalhado”,
diga-se, por um processo quase sem volta, de manipulação da mentalidade social,
mediante a ação maquiavelicamente arquitetada pelos ditos “mais inteligentes” e,
negligenciadamente, permitida por parte daqueles que devem ser os “primeiros educadores
da sociedade”.
MESSIAS TORRES
(Pedagogo)
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