Tribuna do Norte
Um relatório da Anvisa,
divulgado na última semana, mostrou que 25% dos legumes, frutas e verduras
comercializados no Rio Grande do Norte estão contaminados com agrotóxicos. A
pesquisa, realizada em todo o país, coletou no Estado seis amostras de 18 itens
e verificou a quantidade de resíduos de agrotóxicos e o tipo de substância
utilizada. A média potiguar está mais bem posicionada que a média nacional, que
ficou em 27% de alimentos irregulares. Pimentão, Morango, Cenoura e Abacaxi são
os campeões de resíduos irregulares no Rio Grande do Norte.
De acordo com a metodologia
utilizada pela Anvisa, são irregulares os alimentos que contenham níveis de
resíduo maiores que o permitido ou que tenham substâncias proibidas. Segundo o
Instituto de Defesa e Inspeção Agropecuária do RN (Idiarn), responsável pela
fiscalização dos produtores e comerciantes de frutas, verduras e legumes, outra
irregularidade comum é a utilização de um agrotóxico indicado para um tipo
específico de cultura em outro vegetal. Esse uso também é proibido. "As
grandes empresas costumam ter um controle mais rígido, enquanto os pequenos ainda
penam por conta da falta de assistência técnica", explica Gilson Marcone,
agrônomo do Idiarn.
Gilson Marcone, agrônomo do
Idiarn, explica que a fiscalização é realizada, nos locais produtores de
hortaliças e nos comércios, a partir de denúncias. "Nossa fiscalização de
campo ainda é falha", admite. Já nos revendedores dos agrotóxicos esse
acompanhamento é mais detalhado. Há 18 revendedores autorizados, principalmente
em Natal e Mossoró. O Idiarn mapeou a procedência dos alimentos contaminados do
Estado e afirma que a maioria vem de Pernambuco. "Os produtores não são
plantam como também fazem o trabalho de atravessadores. A maioria vem de
Pernambuco, que tem índices maiores de contaminação", explica.
Na Região Metropolitana de
Natal, um dos locais onde há mais produção de verduras e legumes é o
"Gramorezinho", região localizada na divisa entre Natal e Extremoz.
Lá se produz alface, pimentão, cebolinha, coentro, tomate, entre outros. A
última denúncia recebida pelo Idiarn acerca de uso de agrotóxicos fora da
especificação da Anvisa envolveu produtores da região. A reportagem da TRIBUNA
DO NORTE falou com alguns deles, que garantem estar produzindo dentro do padrão
exigido.
"Todo mundo usa
agrotóxico, porque é necessário. Aqui só utilizamos com assistência técnica,
quando realmente é preciso", diz Francisco do Nascimento, produtor da
região. Segundo ele, não há excesso ou utilização de produtos irregulares em
sua propriedade.
Uma pesquisa da UFRN,
publicada em 2009, mostrou que no Gramorezinho cerca de 67% dos produtores usam
agrotóxicos em seus produtos. Os mais utilizados são o Tamaron BR (73,3%) e o
Decis 25EC (33,3%). A utilização dessas substâncias é algo tradicional entre os
produtores, que preferem o produto químico por ser mais eficiente a curto prazo.
Um dos problemas citados por
Gilson Marcone é o uso em culturas não indicadas. Exemplo: o agrotóxico deve
ser usado no alface, mas o produtor acaba usando também no pimentão. "O
estudo que possibilita esse uso não foi feito com o pimentão, no exemplo citado,
e por isso pode haver níveis de resíduo diferentes", explica. E
complementa: "Há formas seguras de usar agrotóxico, mas nem sempre são
seguidas".
Bate-papo
George Queiroz, Professor de Farmácia da UFRN, na área de toxicologia.
"É difícil descontaminar o alimento"
Quais os principais problemas acarretados pela ingestão de agrotóxicos?
Os efeitos são variados, a
depender da classe de substância ingerida. Os praguicidas são uma gama de
substâncias, cada uma com um efeito específico. Há substâncias que inibem
enzimas com atuação no sistema nervoso, então a ingestão dessas substâncias acarreta
problemas neurológicos, como tremores, vertigens, entre outros.
Há outros problemas associados?
Sim, há substâncias que
alteram a produção de hormônios, o que pode acarretar na formação de tumores,
de certos tipo de câncer. Os efeitos são muito variados.
O que é possível fazer para diminuir ou anular os efeitos negativos dos
alimentos contaminados?
É difícil
"descontaminar" o alimento, por mais que se lave. Não é possível
fazer isso, pois estamos falando de substâncias químicas, então está incorporado.
É possível diminuir a contaminação, principalmente na parte mais superficial do
alimento.
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